Em condições normais, ou em
país que já se livrou do autoritarismo, haveria uma investigação para
esclarecer o que o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato intentavam
de fato, quando mandaram recolher o ex-presidente Lula e o levaram para o
Aeroporto de Congonhas. E apurar o que de fato se passou aí, entre a
Aeronáutica, que zela por aquela área de segurança, e o contingente de
policiais super armados que pretenderam assenhorear-se de parte das
instalações.
Mas quem poderia fazer uma
investigação isenta? A Polícia Federal investigando a Polícia Federal, a
Procuradoria Geral da República investigando procuradores da Lava Jato por ela
designados?
É certo que não esteve
distante uma reação da Aeronáutica, se os legionários da Lava Jato não
contivessem seu ímpeto. Que ordens de Moro levavam? Um cameramen teve a boa
ideia, depois do que viu e de algo que ouviu, de fotografar um jato
estacionado, porta aberta, com um carro da PF ao lado, ambos bem próximos da
sala de embarque VIP transformada em seção de interrogatório.
É compreensível, portanto, a
proliferação das versões de que o Plano Moro era levar Lula preso para
Curitiba. O que foi evitado, ou pela Aeronáutica, à falta de um mandado de
prisão e contrária ao uso de dependências suas para tal operação; ou foi
sustado por uma ordem curitibana de recuo, à vista dos tumultos de protesto
logo iniciados em Congonhas mesmo, em São Bernardo, em São Paulo, no Rio, em Salvador.
As versões variam, mas a convicção e os indícios do propósito frustrado não se
alteram.
O grau de confiabilidade das
informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24
da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações. Nesse mesmo tempo,
uma entrevista coletiva reunia, alegadamente para explicar os fatos, o
procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima e o delegado Igor de Paula, além de
outros. (Operação Bandeirantes, ora veja, de onde me veio esta lembrança extemporânea
da ditadura?)
Uma pergunta era inevitável.
Quando os policiais chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já os esperavam.
Quando chegaram com Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam. “Houve
vazamento?” O procurador, sempre prestativo para dizer qualquer coisa, fez uma
confirmação enfática: “Vamos investigar esse vazamento agora!”. Acreditamos,
sim. E até colaboramos: só a cúpula da Lava Jato sabia dos dois destinos, logo,
como sabe também o procurador, foi dali que saiu a informação –pela qual os
jornalistas agradecem. Saiu dali como todas as outras, para exibição posterior
do show de humilhações. E por isso, como os outros, mais esse vazamento não
será apurado, porque é feito com origem conhecida e finalidade desejada pela
Lava Jato.
A informação de que Lula
dava um depoimento, naquela mesma hora, foi intercalada por uma contribuição,
veloz e não pedida, do delegado Igor Romário de Paula: “Espontâneo!”. Não era
verdade e o delegado sabia. Mas não resistiu.
Figura inabalável, este
expoente policial da Lava Jato. Difundiu insultos a Lula e a Dilma pelas redes
de internet, durante a campanha eleitoral. Nada aconteceu. Dedicou-se a exaltar
Aécio, também pela rede. Nada lhe aconteceu. Foi um dos envolvidos quando
Alberto Youssef, já prisioneiro da Lava Jato, descobriu um gravador clandestino
em sua cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Nada aconteceu,
embora todos os policiais ali lotados devessem ser afastados de lá. E os
envolvidos, afastados da própria PF.
Se descobrir por que a
inoportuna lembrança do nome Operação Bandeirantes, e for útil, digo mais
tarde.
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