COMEÇO A ME ASSUSTAR (I)
Por: Francisco Costa
Sociólogos e Cientistas políticos estão tentando destrinchar o mecanismo do golpe, buscando precisar o momento do seu início.
Primeiro acreditaram que tudo começou com a criação da Lava Jato, com Moro detonando as nossas empreiteiras, fragilizando a estatal do petróleo e desmoralizando as autoridades constituídas. Não.
Recuaram no tempo e chegaram ao Mensalão, balão de ensaio no movimento de desarticulação da esquerda, pela desmoralização, para enfraquecê-la (e quantos bons companheiros embarcaram nessa,
Acreditando em Joaquim Barbosa e na mídia), mas também não.
Chegaram aos cursos, dados no Rio de Janeiro, por juízes e procuradores do Ministério Público norte americanos aos nossos juízes e procuradores, ocasião em que se acentuaram as mesadas dadas à Polícia Federal, pelos órgãos de inteligência daquele país.
Logo descobriu-se que boa parte dos grupos que lideraram as manifestações de rua, como o Vem Pra Rua e o Brasil Livre, eram financiados por grandes empresários norte americanos, principalmente ligados ao setor petroleiro.
Mapeando viagens, não por acaso, descobriram que o Kim Kataguiri esteve diversas vezes nos Estados Unidos (que importância teria esse quase adolescente, com livre trânsito no parlamento brasileiro, participando de reuniões com figurões da república, inclusive nas casas de Eduardo Cunha e Heráclito Fortes, e gastando dinheiro a rodo, para colocar a classe média nas ruas?); descobriram as muitas viagens de tucanos, principalmente José Serra e Aloysio Nunes, para reuniões com o alto empresariado e políticos de peso, norte americanos, a começar por Bill Clinton, e, detalhe crucial, a presença, aqui, da embaixadora Liliane Ayalde, a mesma embaixadora que estava em Honduras e no Paraguai quando os golpes foram lá, e nos mesmos moldes jurídicos-parlamentares do golpe aqui.
Estes foram indícios, quase provas, mas seguem-se outros.
A crise internacional, subestimada pelo governo brasileiro, mais os erros de gerenciamento, como o prolongamento das desonerações, não justificam, em si, todo o estardalhaço a respeito de um país falido, que os números desmentem.
Para tanto concorreram o parlamento, não votando as leis necessárias, enviadas, na forma de projetos, pelo governo federal, como a aprovação da CPMF (agora será aprovada), com os partidos protelando ou obstruindo os trabalhos, além de apresentar pautas bombas, estourando o orçamento, como o aumento de 87% para o judiciário, provocando um rombo de mais de 15 bilhões, por causa do efeito cascata, e a mídia, omitindo ou subestimando números, às vezes superestimando, quando desfavoráveis ao governo, criando uma crise artificial (já houve acordo, entre Temer e os barões da mídia, para que não se use mais a palavra crise nos noticiários).
Chegamos finalmente à etapa final do golpe, precipitado por uma vingança pessoal de Eduardo Cunha, que não estava no script, mas foi providencial para os golpistas, contra a Sra. Presidente da República.
Seguiu-se a baixaria que se viu, entre o carnaval e o culto, com os deputados votando em nome de Deus e de seus cachorros, como se o momento fosse de festa, com boa parte deles trocando o voto na última hora, por monetária influência da Fiesp e dos dólares vindos do exterior, segundo alertado previamente pela indiscrição do deputado Paulinho da Força (“não faltará dinheiro para o golpe, há muita gente interessada”), e o Senado sacramentou.
Até aqui só irritação e frustração, sem sustos ou preocupações maiores.
Temer tomou posse.
De um governo recém empossado era de se esperar discrição e comedimento, como sois acontecer com todos nesta condição, já que tomando pé da situação, estudando o que fazer e como fazer, mas Temer chegou com a intimidade do domínio muito bem respaldado, com força total, mais uma evidência, a de que tem salvo conduto para fazer o que quiser e como quiser, com o beneplácito do STF, que impediu Lula ministro por estar sendo investigado na Lava Jato e está fazendo vistas grossas para as posses de sete ministros na mesma situação de Lula.
Sem que possamos determinar a causa, o STF, hoje, está nas mãos de Gilmar Mendes que, não por acaso, participou de todas as reuniões com os parlamentares golpistas.
As últimas 48 horas foram muito sugestivas do que deve vir por aí: Gilmar Mendes isentou Aécio Neves da corrupção, Fachin isentou Renan Calheiros da corrupção e a Polícia Militar de São Paulo, sob comando golpista, sem autorização judicial (mandado de reintegração de posse) invadiu escolas, espancando adolescentes, para desocupá-las.
No mais, é engraçadíssimo ouvir notórios corruptos, cheios de processos nas costas, dando declarações na mídia, que a corrupção não será tolerada.
Tudo isto aponta, pela naturalidade como as coisas estão acontecendo, que já havia um governo paralelo planejando tudo, há um bom tempo.
E aí o susto, pelo que possa vir.
Há mais o que dizer, sinto cheiro de fechamento do regime, de ditadura próxima, mas os indícios, além desses que enumerei, comento no próximo artigo.
Francisco Costa
Rio, 13/05/2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário