O neurocirurgião Richam
Faissal Ellakkis, que sugeriu em um grupo de WhatsApp um procedimento para
matar a ex-primeira-dama Marisa Letícia, foi demitido pela Unimed nesta
sexta-feira 3; com isso, ele se torna o segundo médico a ser desligado por
agressões relacionadas à morte da esposa do ex-presidente Lula; antes, a médica
Gabriela Munhoz foi demitida pelo Hospital Sírio Libanês, onde estava internada
Dona Marisa, por compartilhar informações sigilosas da paciente também pelo
WhatsApp; Richam Ellakkis fez o seguinte comentário em cima das
informações divulgadas por Gabriela: "Esses fdp vão embolizar ainda
por cima. Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça
ela".
Outrora uma profissão
abraçada por abnegados ascetas, a ponto de ser comparada por muitos a um
sacerdócio, a Medicina parece ter se convertido aqui no Brasil a uma seita
satânica seguida como profissão de fé por seres grotescos –sem alma, sem
cérebro, sem compreensão do mundo, sem dó ou compaixão.
Exagero e tomo a parte pelo
todo porque os médicos brasileiros precisam, seja por iniciativas das entidades
de classe, seja por eles mesmos atuando individualmente, reagir de forma dura e
organizada à ínfima minoria integrada por seres abjetos como a reumatologista
Gabriela Munhoz, o cardiologista Ademar Poltronieri Filho, o urologista Michael
Hennich e o neurologista Richam Faissal Ellakkis.
Horas depois de Marisa
Letícia da Silva dar entrada no Hospital Sírio Libanês, há 10 dias, com um
quadro de Acidente Vascular Cerebral grave, Gabriela Munhoz divulgou em grupos
de Whatsapp dados do prontuário médico da ex-primeira-dama cuja morte cerebral
foi anunciada ontem (2.fev.2017). Não o fez em busca de auxílio. Eram informações
sigilosas de uma paciente — fosse quem fosse — e o simples fato de
compartilhá-las configura um atentado à ética médica.
O compartilhamento de Munhoz
seguiu-se a disseminação dos dados pessoais da mulher do ex-presidente Lula por
Poltronieri Filho. A partir dali o urologista Hennich desdenhava da paciente,
fazendo piadas com ela. Tudo culminou com a torcida declarada do neurologista
Ellakkis para que Dona Marisa, uma mãe carinhosa, avó dedicada, companheira
solidária, mulher de rara fibra e militante valorosa de causas sociais e
políticas, evoluísse a óbito — para usar o jargão dessas bestas de jaleco.
“Esses fdp vão embolizar
ainda por cima”, escreveu, em referência ao procedimento de provocar o
fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue em determinado
local. “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça
ela”, escreveu Ellakkis, que presta serviços no hospital da Unimed São Roque,
no interior de São Paulo, e em outras unidades de saúde da capital paulista,
segundo relato de apuração jornalística efetuado por O Globo e divulgado no
site do jornal.
Os valores dessa verdadeira
quadrilha de médicos que rasgaram seus juramentos aos princípios de Hipócrates
e espicaçaram qualquer solidariedade humana podem –e devem– ser comparados aos
patéticos protestos contra o desembarque de doutores e doutoras cubanos no
âmbito do programa Mais Médicos levado a cabo no primeiro governo da
ex-presidente Dilma Rousseff. Podem e devem, ainda, ser analisados em paralelo
com a atitude criminosa de ortopedistas do Distrito Federal que prescreviam
cirurgias de colocação de próteses ósseas desnecessárias e introduziam no corpo
dos pacientes peças de segunda mão –matando muitos de infecção, restringindo o
movimento de outros e assaltando-os abertamente ao superfaturar os
procedimentos clínicos e cirúrgicos.
Somam-se os exemplos e os
paralelos. Multiplica-se a solidariedade da infâmia, com a corporação
protegendo aos seus e deixando a sociedade à mercê da sorte. Abatido pela onda de
ódio conservador e primitivo contra os médicos cubanos, o Mais Médicos se
liquefez e devolveu à incerteza e à intermitência o atendimento a milhares de
brasileiros, sobretudo nas cidades do interior, porque o exercício da Medicina
é encarado por essa corja de “doutoras” e “doutores” como Munhoz, Elliakkis et
caterva como uma ação entre amigos da mesma classe, do mesmo credo, do mesmo
grupo e com o mesmo objetivo.
O vazamento dos dados
pessoais da ex-primeira-dama por uma profissional médica do Sírio-Libanês (o
hospital já a demitiu) expôs em definitivo uma faceta sórdida da sociedade
brasileira. Estamos, talvez definitivamente, divididos pelas opções e opiniões
políticas. Isso é raso. Isso é rasteiro. E isso não é vida real. É ódio e, em
alguns casos, é também recalque.
A ação dos vermes de jaleco
que abusaram da agonia de Marisa Letícia não pode ficar impune no meio médico.
Caso fique, toda a corporação corre o risco de começar a ser tratada com o
desprezo que bandidos assim merecem. E sentirão a dor da discriminação que se
dedica a quem vende a alma a seitas de fanáticos. Médicos como os que se
integraram a essa corrente da infâmia nascida no Sírio-Libanês são passíveis do
desprezo e merecedores de todos os castigos divinos.
Por: Luís Costa Pinto
http://www.contextolivre.com.br/2017/02/as-bestas-de-jaleco.html?m=1
Nenhum comentário:
Postar um comentário