sexta-feira, 25 de março de 2016

DOIS BRASIS: Enquanto acompanhava a marcha da noite desta quinta-feira Santa (24) que, ao seu final, cercou a sede do Império, a Globo, não parava de pensar: são dois brasis.


O país das elites que resolveram ir às ruas: um país branco, rico, que odeia, que vive no Brasil, mas, sonha com os Estados Unidos. O país dos pobres que também resolveram ir às ruas: misturado, lascado, que sofre, mas, tem esperança, que vive no Brasil e sonha com o Brasil. Ontem diante da Globo havia umas 30 mil pessoas. A imensa maioria era constituída de gente que mora em ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

Negros, mestiços, pessoas com traços indígenas, gente de mãos calejadas e pés cansados, sem nada nas mãos, sem dinheiro nos bolsos. Gente que luta pra viver cada dia, ultrapassar obstáculos do cotidiano numa fronteira por vezes fina demais com a miséria completa. Não cheiram a perfume francês, nem mesmo da Natura ou Boticário. Cheiram ao suor de quem peregrina.

Dois brasis.
Tem um Brasil que mora no Jardim Europa, Jardim América, Cerqueira César, Morumbi...
Tem um Brasil que mora na Faixa de Gaza, Capadócia, Chico Mendes, Nova Palestina...
Tem um Brasil que, rico, vai às ruas e grita contra a corrupção mas trabalha e incensa os grandes corruptores: ataca os "corruptos do PT" e vota nos maiores corruptos; move-se a partir de seu umbigo e seu desejo incontido por fortuna; educa seus filhos a odiarem os pobres.

Tem um Brasil pobre que vai às ruas e, mesmo arrasado por uma política econômica de direita, deixa de lado seus interesses imediatos e defende o bem maior, a democracia; esmagados pela sociedade de exclusão, carregam a esperança que pode salvar todos, e não apenas eles; educam seus filhos na consciência de que a vida é a possibilidade de direitos. 

Dois Brasis.
O Brasil dos domingos que respira ódio e quer tudo pra si.

O Brasil dos dias da semana que planta amor e quer direito de existir em partilha e solidariedade.


Por: Mauro Lopes

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